Triste lembrar que essa data nos obrigava, no passado de estudantes, a cantarolar uma tal revolução que nunca aconteceu.
Por: Gilson José
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não (Geraldo Vandré)
31 de Março, dia de gritar: abaixo a ditadura! Dia de pichar muros (mentalmente, ara não sujar) com abaixo a ditadura! De dizer que não somos obrigados a ouvir louvores à violência do Estado ou seja lá de onde vier. Olhar para trás e dizer que não aceitamos mais regime de força em lugar algum.
A ditadura é a negação da política, dos fundamentos do Estado, da condição natural do ser humano. Se a política é instituída pelos gregos no século de Péricles, com a criação do espaço público, o que existia antes era a força das armas, dos exércitos, o terror e o medo. Negar o espaço de participação é compactuar com bandos e hordas de um tempo longínquo que sempre nos ameaça.
Sim, existiu antes, no que Rousseau chamou de estado natural, o comunitarismo primitivo, quando se organizavam os clãs para sobreviver, não para acumular. Surgindo a propriedade privada, vieram junto a desconfiança e o consequente uso de força, bem como a escravização e acumulação.
Abaixo toda forma de ditadura! Não há necessidade de tanques e brucutus: precisa-se de sortimento, comida barata para o povo. Precisa-se de trabalho digno e bem remunerado, sem apartheids em que uma classe poderosa recebe exageradamente e uma multidão passa fome e fica sem outras condições necessárias à vida.
Sobretudo precisa-se que se possa falar, gritar, protestar, opinar, fazer oposição, sem balas, baionetas, prisões, torturas, mortes, exílios, censura. Cala a boca já morreu e foi tarde.
Toda forma de ditadura seja eliminada: não só de governos. Também nas relações sociais, afetivas, profissionais, educacionais, religiosas. Ditadores e ditadoras pipocam por aí, em autoritarismos também nos pequenos espaços de poder. É o pastor, padre ou pai de santo que manda e o fiel obedecer sem fazer avaliação, é o chefe de repartição que se esparrama na cadeira para ditar ordens, é o machismo, é o feminismo, é tudo. Uma microfísica de poder, segundo Foucault.
Sonho uma sociedade sem donos, sem donas, sem quem manda e desmanda. Um mundo de fraternidade, de valores humanos, em que a vida tenha primazia. Sem o panóptico que nos vigia e pune.
Triste lembrar que essa data nos obrigava, no passado de estudantes, a cantarolar uma tal revolução que nunca aconteceu. Triste memória de uma noite de 21 anos, que ainda hoje nos provoca pesadelos e calafrios só em lembrar. Fiquemos vigilantes, porque a ditadura sufoca e estrangula toda a liberdade que nos faz humanos. Ela, a ditadura, está de espreita, sempre. Alerta geral, o tempo todo. E pratiquemos a socialização do amor e da liberdade. Vivas à democracia!
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